O assalto ao Capitólio dos EUA por apoiantes do Presidente Donald Trump reflecte um fracasso da liderança, bem como a profunda divisão que percorre a sociedade americana, disseram editoriais na imprensa estatal chinesa na sexta-feira.
Centenas de apoiantes do Presidente Trump sitiaram o Capitólio na quarta-feira no que a Presidente da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi descreveu como “uma insurreição armada contra a América”.
O Global Times, um tablóide do People’s Daily, o jornal do Partido Comunista no poder, descreveu os motins como um sinal de “colapso interno” que não poderia ser facilmente revertido.
“A multidão sem precedentes no Capitólio, um símbolo do sistema norte-americano, é o resultado da divisão severa da sociedade norte-americana e do fracasso do país em controlar tal divisão”, disse o jornal.
“Com o passar do tempo e com os abusos de recursos por parte de gerações de políticos, o sistema político norte-americano degradou-se”, disse o jornal, acrescentando que tais políticos “merecem caos, violência”.
Também se chocou com o que descreveu como “dois pesos e duas medidas” entre os políticos americanos que expressaram apoio aos manifestantes pró-democracia, que forçaram sua entrada no Conselho Legislativo do território em 2019.
“Em Hong Kong, as ações violentas são descritas como uma ‘bela visão’, nos EUA, as pessoas envolvidas neste caos são chamadas de ‘mobs'”, disse o jornal.
Falsa equivalência
Os manifestantes de Hong Kong, em meio a comícios em massa contra uma proposta de lei de extradição com a China continental, que evoluiu para pedidos de sufrágio universal, quebrou barricadas policiais e vandalizou a câmara legislativa.
A mídia de Hong Kong recuou na comparação entre os dois eventos, dizendo que os manifestantes de Hong Kong estavam lutando por mais liberdade nas urnas, enquanto os apoiadores pró-Trump estavam encenando uma “insurreição violenta” para minar as eleições livres e justas de seu país.
A imprensa livre de Hong Kong disse que a comparação entre a agitação nos EUA e os protestos de Hong Kong era de “propaganda perversa”. Desde então, a China impôs uma Lei de Segurança Nacional varrida no território, sob a qual mais de 50 políticos, ativistas e até acadêmicos pró-democracia foram presos esta semana.
Tão fartos de pessoas tentando comparar os Estados Unidos com a China e a Rússia. Por mais angustiante que seja o motim do Capitólio dos EUA, os participantes serão presos por tentarem SUBVERTIR a democracia. As mais de 50 pessoas que acabaram de ser presas em HK foram detidas por tentarem PROMOVÊ-LOhttps://t.co/43A0VQM7yk
– Kate O’Keeffe (@Kate_OKeeffe) 6 de janeiro de 2021
Meanwhile, o jornal oficial do China Daily disse que o “nacionalismo estreito” de Trump tinha feito um pedágio nos EUA.
“Se a administração Biden puder tirar lições do ‘dia mais negro’ da história dos EUA, a dor que o país experimentou nestes dias pode vir a ser vista como uma dor crescente”, disse o jornal.
“A violência e o caos que irromperam nos EUA no ano passado mostram o que acontece quando os líderes de um país perdem o contacto com a realidade”, acrescentou.
Hua Chunying, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, disse anteriormente que Pequim esperava que o povo americano pudesse “recuperar a paz, a estabilidade e a segurança”, após o caos no Capitólio.
Como a violência se desenrolou, o Global Times também publicou relatórios afirmando que os neozelandeses chineses tinham rotulado o motim de “karma”, justapondo imagens dos eventos em Hong Kong Legco e na capital dos EUA.
A publicação citou os neozelandeses chineses como dizendo que viam o “caos nos EUA como vingança”.