Artigo
Você é livre para compartilhar este artigo sob a licença Atribuição 4.0 Internacional.
- cancer
- food
Universidade da Florida
Legrado como um químico causador de câncer por décadas e declarado seguro há cerca de 15 anos, sacarina pode inibir o crescimento de células cancerosas, de acordo com novas pesquisas.
O adoçante artificial mostra uma considerável promessa pela sua capacidade de bloquear uma enzima upregulada em muitos cancros que ajuda as células tumorais a sobreviver e a metástase, dizem os investigadores.
Após testar sua eficácia em células cancerígenas, os cientistas acreditam que a sacarina pode eventualmente levar ao desenvolvimento de drogas que tratam cânceres altamente agressivos que afetam a mama, fígado, próstata, rim e pâncreas, diz Robert McKenna, professor de bioquímica e biologia molecular da Universidade da Flórida.
Descoberta da surpresa
A descoberta poderia nunca ter acontecido se não fosse por Brian Mahon, um curioso assistente de pesquisa de pós-graduação que queria saber como a sacarina poderia afetar a enzima, anidrase carbônica IX, que é encontrada em cânceres agressivos.
Mas Mahon não queria esperar uma semana para que uma ordem de sacarina pura chegasse ao laboratório. “Então fomos a uma cafeteria e pegamos um pouco de Sweet ‘N Low. Eu disse, ‘Vamos experimentar’ e fizemos e coletamos alguns dados”, disse ele.
Depois de fazer algumas experiências iniciais, os pesquisadores estão colaborando com Susan Frost, professora de bioquímica e biologia molecular, para analisar o efeito da sacarina nas células cancerosas da mama.
Os pesquisadores “literalmente tomaram Sweet ‘N Low e sacarina e mostraram que a taxa de crescimento da célula cancerígena diminui quando você a adicionou”, diz McKenna, autor principal do novo artigo publicado na revista Bioorganic & Química Medicinal.
Como funciona
Os pesquisadores descobriram que a sacarina perturba a capacidade da anidrase carbônica IX de regular o nível de pH da célula cancerígena – sua concentração de íons hidrogênio. Isso acaba por tornar mais difícil o crescimento e a metástase da célula cancerígena.
O alvo da anidrase carbónica IX também é uma opção atractiva porque não é expressa na maioria das outras células do corpo, o que significa que os tecidos saudáveis não devem ser afectados mesmo quando as células cancerígenas estão enfraquecidas, diz McKenna.
As drogas à base de sacarina seriam provavelmente utilizadas em conjunto com os tratamentos tradicionais do cancro, tais como a quimioterapia e a radiação. Um medicamento à base de sacarina retardaria o crescimento do câncer, oferecendo a oportunidade de radiação ou quimioterapia serem mais eficazes para matar a célula cancerígena.
“Pode ajudar a tornar a quimioterapia convencional mais eficaz”, diz McKenna.
‘Mauzão’ tornou-se ‘bomzão’
A ironia de um químico que antes era rotulado como um potencial cancerígeno, agora tendo potencial como agente anti-cancerígeno, não se perdeu na equipe de pesquisa. Estudos nos anos 70 ligaram a sacarina ao câncer de bexiga em ratos de laboratório, segundo o Instituto Nacional do Câncer.
Congresso ordenou mais estudos e aprovou uma lei em 1977 que exigia um rótulo de alerta. Estudos posteriores descobriram que a incidência de câncer em ratos era irrelevante para os humanos, levando a uma revogação da exigência de rotulagem no final de 2000. A US Food and Drug Administration declarou a sacarina segura para consumo no ano seguinte.
“O público só se lembra da atenção negativa. A sacarina foi vista como a má da fita e definitivamente não é a má da fita. Pode até ser um cara bom”, diz McKenna.
“Os pesquisadores querem testar mais a eficácia da sacarina nas células cancerígenas e eventualmente passar para modelos de camundongos”. Neste verão, eles planejam submeter pedidos de bolsas que permitirão estudos adicionais e se basear nos dados que foram adquiridos.